A personagem palhaço : a construção do sujeito

Pantano, Andréia Aparecida – A personagem palhaço : a construção do sujeito. Marília: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/ – Filosofia. Dissertação de Mestrado, 2001.

RESUMO: Nossa pesquisa analisou o processo de construção da personagem palhaço. As principais questões que permearam o trabalho foram: em que o ator circense se inspira para compor sua personagem, seu ser palhaço?; como ocorre esse processo de criação?; como a maquiagem, vestimenta, adereços e o modo de representar se materializam no momento da encenação?; qual a diferença entre ator circense e o ator dramático?; como as características individuais de cada artista se manifestam no processo de criação do palhaço?; o que é, de fato, uma personagem/palhaço? Analisamos diversos depoimentos de palhaços de circos pequenos – dada a importância central que o palhaço assume nos quadros cômicos. Buscamos recuperar o saber artístico presente na memória oral, as experiências acumuladas durante toda uma vida circense, transmitidas de geração a geração sobre esta forma peculiar de criar uma personagem. Durante a pesquisa percebemos que cada palhaço tem sua forma própria de construir sua personagem: não existe uma regra a ser seguida. Antes de mais nada é necessário conhecer os seus próprios traços, seus aspectos subjetivos, para dotar sua personagem das qualidades que lhe são próprias. Dessa forma, a subjetividade do ator não aparece somente no momento da criação da personagem: ela está presente também no instante da encenação. Em alguns momentos personagem e ator se confundem. Além da bibliografia sobre o tema, recorremos a textos filosóficos (Teoria da Auto-Organização) e literários (O estrangeiro e Metamorfose) que possibilitassem a discussão sobre a questão da subjetividade. A teoria da auto-organização ajudou-nos a entender melhor um fenômeno tão corrente no circo como no teatro que é a improvisação dadas as características comuns tanto da teoria como da improvisação – o acaso. Se a teoria da auto-organização contribuiu com o fenômeno da improvisação, por outro lado, no que diz respeito a subjetividade, não nos satisfez. Pelo que observamos há uma desconstrução do sujeito na teoria da auto-organização. Desta forma, a literatura nos mostrou um caminho mais arriscado, porém dotado de maiores possibilidades para a compreensão das dimensões múltiplas do sujeito. Adotamos a literatura como um suporte para sustentar a subjetividade, isto é, encontramos nessas obras o refúgio necessário para demonstrar o quanto o sujeito – embora fragmentado – e a subjetividade são importantes e por demais complicados para simplesmente serem postos de lado. Não encontramos respostas para definir a subjetividade, estamos longe de resolver suas múltiplas facetas. No processo de criação da personagem/palhaço podemos dizer que tanto o sujeito quanto a subjetividade, indiscutivelmente, sustentam e suprem a forma da personagem.

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