Palhaçaria no SUS : pesquisa, registro e difusão [Livro eletrônico]

BRUM, Daiani Cezimbra Severo Rossini. Palhaçaria no SUS [Livro eletrônico] : pesquisa, registro e difusão. Porto Alegre : Pati de La Rocha Produções – Praxila Editorações, 2023.

Apresentação

É comum, na atuação de palhaças, palhaços e palhaces em contextos hospitalares, a criação de sequências de imagens tais quais são apresentadas no início deste livro. Independentemente da idade, as pessoas em situação de hospitalização vivenciam momentos de estresse, de vulnerabilidade, de medo, de dor, entre outros, que destoam da proposta implícita na apresentação de palhaças/os/es. As palhaças/os/es, todavia, aliam-se a uma política de promoção de bem-estar e de desvio, mesmo que momentâneo, do foco da dor no contexto hospitalar, o que se dá em um limite tênue entre aceitar a negativa imposta pelos momentos de sofrimento e investigar a sua impermanência, naquele instante, por meio de uma palhaçada.

Na sequência de imagens acima, apesar da insatisfação apresentada inicialmente pela criança, a palhaça Brum permaneceu por alguns segundos tentando reverter a situação em favor de uma interação bilateral, mesmo que tenha sido rápida e por motivo de despedida. Com a negativa da criança, a palhaça parou de tocar a música com uma harpa de boca, afirmou que iria embora e, ao se despedir, deixou uma pequena flor com ela. Esse contato, embora rápido, ampliou a recepção da criança, que passou a demonstrar maior abertura para com a palhaça. No segundo encontro, em 2019, no Hospital da Criança de Chapecó (SC), estampava-se em seu rosto um mundo de possibilidades a serem construídas e partilhadas: o sim, uma pequena flor agitando-se em suas mãos. Essas e outras situações que revelam as camadas da palhaçaria no contexto hospitalar, especificamente realizada no Sistema Único de Saúde (SUS), são aqui registradas e disponibilizadas enquanto material de estudo e aprofundamento dos conhecimentos sobre a arte da palhaçaria em espaços de vulnerabilidade social. O material aqui apresentado é resultado parcial de minha pesquisa de Doutorado em Teatro, realizado na Universidade do Estado de Santa Catarina (2017-2022), orientada pela Profa. Dra. Maria Brígida de Miranda e financiada por uma bolsa de doutorado da FAPESC. A presente publicação foi realizada com recursos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC – Pró-Cultura, RS).

Apresento, neste livro, uma síntese de quatro anos de pesquisa de Doutorado, dois anos de Mestrado e mais de dez anos atuando como palhaça no SUS, além de entrevistas e narrativas de outras/os palhaças e palhaços profissionais. Inicialmente, trago relatos de experiência como palhaça em contextos hospitalares; na sequência, a partir de um estudo sobre os escritos de Foucault (1984), enumero algumas pesquisas acadêmicas sobre a palhaçaria hospitalar em diversas áreas do conhecimento, especialmente na área da Saúde. Posteriormente, faço um registro sobre a Associação Doutores da Alegria, fundada em 1991 e tida como pioneira na palhaçaria hospitalar brasileira, registrando, ainda, o trabalho da Profa. Dra. Ana Elvira Wuo, que, desde 1993, atua como palhaça e como formadora voltada para contextos hospitalares e estudos acadêmicos. A continuação do livro se dá a partir do trabalho de registro e de pesquisa sobre entrevistas concedidas por profissionais de três grupos, são eles: Doutores da Alegria (SP), (A)Gentes do Riso (SC) e Doutores Risonhos (SC).

As pessoas entrevistadas foram: José Nereu Afonso da Silva (São Paulo, SP), palhaço nos Doutores da Alegria desde 1996; Layla Ruiz Pontes (São Paulo, SP), palhaça nos Doutores da Alegria desde 2007; Adriana Patrícia Santos (Florianópolis, SC), integrante da companhia (A)Gentes do Riso desde 2017; Egon Hamann Seidler Júnior (Florianópolis, SC), integrante da companhia (A)Gentes do Riso desde 2011; Paula Bittencourt de Farias (Florianópolis, SC), integrante da companhia (A)Gentes do Riso desde 2011; Allan Ortega Monteiro (Florianópolis, SC), integrante da companhia (A)Gentes do Riso desde 2018; Greice Miotello (Florianópolis, SC), integrante da companhia (A)Gentes do Riso desde 2011; Michelle Silveira da Silva (Chapecó, SC), fundadora e integrante do grupo Doutores RiSonhos desde 2013. Essas entrevistas compõem o capítulo quinto deste trabalho e são discutidas, na primeira parte do capítulo, a partir de cinco unidades de significado, sendo elas: 1) os aspectos formativos das palhaçaria hospitalar; 2) o desejo de atuar como palhaça/o/e; 3) as especificidades e dificuldades desse contexto de atuação; 4) os marcadores sociais na palhaçaria e os relatos de experiências, cenas e situações.

Desejo que este livro inspire, no universo do teatro, práticas voltadas para públicos periféricos e em situação de vulnerabilidade social, e que registre um pouco o cotidiano de trabalhadoras e de trabalhadores da cultura no contexto do SUS. Com amor e alegria.

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