Nas entrelinhas do circo brasileiro Capítulo primeiro: o Circo Roda Ciranda (Macapá – AM)

Nos últimos anos tenho tido a maravilhosa oportunidade de conhecer diferentes projetos circenses com os quais acredito que firmei um compromisso: fazer com que outras pessoas também os conheçam. Deste modo, espero estar contribuindo para a difusão da arte do circo, para o maior respeito e a valorização destes projetos e das pessoas responsáveis pelos mesmos, muitas das quais passam despercebidas num cotidiano tão atribulado.

Vamos à conversa com Fernando Chaves, fundador do Projeto Roda Ciranda (Macapá – AM) e sua família.

Como, onde e porque começa o projeto Circo Roda Ciranda?

Eu fui uma criança feliz e da minha infância ficaram as brincadeiras, as histórias, as cantigas de roda, corria atrás de bola, de papagaio e Aqui em Macapá em meados de 1999, com meus filhos pequenos, percebi o quanto seria importante para eles viver momentos tão deliciosos quanto os que eu vivi, com isso ensinava e cantava cantigas, contava histórias infantis e para ampliar esse universo reuni outras crianças que se encarregaram de trazer mais outras, e assim formamos uma grande roda e com isso, peguei minha família e as outras crianças e fomos para as praças de Macapá, para qual levávamos as histórias, as cantigas a alegria da infância e a figura do palhaço que se caracteriza em cena para que as crianças não ficassem com medo. Em 2002 adquirimos a nossa primeira lona que itinerou pelos bairros e comunidades próximas a Macapá, até que resolvemos fixá-la no centro de Macapá próximo ao Parque da Fortaleza onde começamos a receber artistas circenses que passavam pela cidade e ali encostavam oportunizando ao nosso grupo aprendizado de malabarismo, equilíbrio e de acrobacia.

Como foi vosso encontro com o Circo? Onde, como porque?

lona circo rodaQuando circo chegava à minha cidade eu corria atrás do palhaço na perna de pau que com um grande cone gritava: hoje tem espetáculo? E as crianças respondiam: Tem sim senhor!… Nós ganhávamos um carimbo no braço que nos dava direito a assistir o espetáculo, e isso jamais saiu da minha memória.

Onde fica? Quais são as instalações? E como sobrevive o Circo Roda Ciranda?

Hoje a tenda do Circo Roda Ciranda de 12m X 17m se encontra instalada em um sítio no bairro do Goiabal em Macapá, que ao seu redor foram construídos outros 5 espaços nos quais são aplicadas oficinas de Educação do Ser e iniciação musical para crianças de 19 escolas municipais por meio do Programa Mais Educação que atualmente é como tem se mantido, e também de apresentações em eventos culturais.

É certo que o Roda Ciranda tem na vossa família a sua base de sustentação? Como é trabalhar em família?

Entendemos que a família é a base de tudo, o circo é prova disso. Juntos somos mais fortes. Trabalhar em família é ter a certeza de que nunca estamos sozinhos, pois sonho que se sonha só é apenas um sonho.

Falem um pouco sobre a parceria com o Museu Sacaca e sobre este novo projeto de “escola de circo”?

circo roda ciranda2Ao colocar o circo para dialogar com toda uma diversidade cultural e atendendo a um convite, resolvemos fazer o atendimento de 20 crianças em 2012, e agora são 40, com oficina de iniciação a acrobacia de solo, malabarismo e equilibrismo com propósito de melhorar a concentração, a coordenação motora, a autoestima, a convivência, e valores que a atividade circense nos possibilita desenvolver nas crianças. Todas elas são das proximidades do Museu Sacaca, uma forma encontrada de reaproximar a comunidade daquele espaço e de estimular um novo olhar sobre um Museu, ou seja, um lugar de preservação da identidade dos povos tradicionais, por isso o circo, nesse caso os amazonidas, mais que proporciona interação e transformação social. Essa possibilidade foi possível por meio do Circo Escola Museu Sacaca com as 16 crianças que concluíram as atividades em 2012. E, em maio de 2013 tivemos um encontro com o professor Marco A C Bortoleto, nosso referencial teórico e metodológico, que nos estimulou a buscar novas informações sobre os artistas circenses e, consequentemente, sobre a história do circo no Amapá.

Vocês poderiam comentar a parceria com o MEC, mas precisamente no projeto Mais Educação, e como isso vem sendo desenvolvido?

circo roda ciranda4Achamos o Programa Mais Educação de grande importância para a implantação da educação integral, que para nós só é possível através da arte. Pensamos no Projeto “Picadeiro Cidadão” com a finalidade de usar a atividade circense como instrumento de transformação social (a mesma ideia aplicada no Museu), junto com oficinas de iniciação a percussão, coletivo de cordas, flauta doce, manejo de horta e educação do ser, para atender em 2011 em nosso espaço no goiabal crianças cadastras no Programa Mais Educação do MEC, de 10 escolas municipais de Macapá, agora são 19, onde uma vez por semana elas se deslocam da escola até o projeto e participam de três momentos de em média 50 minutos em cada atividade (circo, música e educação do ser), em sistema de rodízio, no período de 10 meses. O MEC através do Programa nos garante os monitores e o material de custeio e capital contemplados em seu manual, a Prefeitura de Macapá através de convênio deveria garantir a segurança, serviços gerais, material de expediente e de consumo, reparos e manutenção do espaço e dos materiais de capital, porém devido o convênio nunca ter sido efetivado desde 2011 a parte que competiria a Prefeitura é suprida pelos monitores e seus idealizadores.

Percebi que a música permeia vosso trabalho de lado a lado. Poderiam comentar este assunto?
No processo de transformação social através da arte utilizamos todos os recursos que dispomos, como musico de profissão que sou, a música sempre esteve em minha vida e permeou a criação dos meus filhos, que cresceram brincando de e com música, percebi o quanto isso fez a diferença na formação de cada um deles, pois a música com seu poder de encantar e de agregar, como o circo, foi mais uma ferramenta que encontramos de superar as nossas diferenças e dificuldades e nos manter juntos.

circ- roda ciranda1Quais são seus grandes sonhos e os grandes desafios para o futuro?

Colocar a arte circense para trabalhar com os portadores de deficiência e levá-la às comunidades ribeirinhas, ou seja, continuar lutando para que o circo continue no imaginário das pessoas.

Por fim, queria saber se existem outros projetos que desenvolvem a arte do circo no Amapá?

Aqui no Amapá o que sabemos foi da Cia Teatral Cangapé que lançou um projeto o “CORDA BAMBA NO EQUADOR” que foi contemplado pelo Prêmio Funarte de Estimulo ao Circo em 2011 voltado para a Comunidade do Bairro do Araxá que desenvolveu oficina com as crianças de 10 a 15 anos com duração de três meses (de maio a agosto de 2012); a outra companhia de Arte “Ói Noiz Aki” que incluiu em suas atividades a oficina de circo como parte do Projeto “Descoberta e formação de novos valores” que foi selecionado pela UNESCO por meio do Criança Esperança para desenvolver suas atividades no ano de 2013.

Prezados Fernando, Gizelle e demais integrantes e profissionais do Roda Ciranda,
Meu muito obrigado pela generosidade, pela dedicação ao circo, à cultura e a sociedade brasileira!

Mais informação deste projeto: http://rodacirandacirco.blogspot.com.br/

Maio-junho de 2013

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