Menino Sapeca de Paranavaí

Em Paranavaí/PR sempre observei os circos que se instalavam em nossa pacata cidade com seus mastros, lonas, trailers, artistas, como um mundo do possível, onde homens voariam entre o público, onde meu coração se apaixonaria pela bailarina, que o palhaço levaria um chute na “bunda” e no final surgiria um riso inocente, para que meus sonhos de menino fossem completo.

Minha imaginação ganhou asas, pernas e braços e um corpo que começou a andar pelas ruas perdido, logo encontrou adeptos dessa magia que sempre olharam na perspectiva do possível como a coordenadora da Casa da Cultura de Paranavaí e Diretora do grupo Cia. Oficinas, Rosi Sanga, na qual fazíamos parte, que nunca deixou morrer em nós essa magia. E assim em agosto de 2001 no Colégio Dr. Marins Alves de Camargo com a Ajuda de Viviane Rossato Assis uma música pedagoga, Maria Pereira Nery uma orientadora que me apoiava nos estudos e na fuga para festivais de artes, e oficinas circenses, Terezinha de Lourdes diretora do Colégio e mantedora do sonho e da minha primeira perna de pau e figurino, Bruno Alécio Belilia um companheiro e amante da arte circense, que sempre esteve ao meu lado para assim levarmos as tortas na cara e Verônica Hobold Garcia Mendes uma expectora que cuidava desse corpo que agora tinha uma direção e (eu) Marcos da Cruz Alves Siqueira um menino encantado e um jovem professor/aprendiz. Essas magníficas pessoas citadas à cima foram na quais acreditaram no sonho de ter um grupo circense na cidade. Onde seria um ponto crucial para o crescimento cultural.

Lembro-me como se fosse hoje quando levei um projeto para o Colégio de se formar um núcleo de artes e vi frente aos meus olhos um sorriso inocente, logo tomaram para si o projeto, o colégio alugou um barracão de uma associação de bairro, ajudava assim a pagar, água, luz, para assim desenvolvermos oficinas, acima de tudo realizações de sonhos. Naquele espaço de tijolos e madeiras, empoeiradas surge um dos primeiros grupos de circo da cidade de Paranavaí “Pantomima Viva”, senti naquele exato momento uma responsabilidade de se continuar o circo e seus saberes. O corpo começou a andar ainda meio cambaleando com o espetáculo “Gags” um espetáculo de rua, que não tinha hora e nem dia para começar, apenas surgia num lugar qualquer, com dois palhaços que traziam suas bagagens e ali resmungavam para o mundo, as dores e alegrias de apenas ser palhaços. Não posso negar que o grupo também fez diversos esquetes em festivais de artes, festival estudantil, feiras de artes. Com isso ganhamos fôlegos, apegos, nome, sobrenome e um nariz vermelho. Ganhamos Também respeito ainda que leve. Sentimos isso quando o projeto por falta de verba foi se dispersando até quase sumir, mas Bruno Alécio Belilia conversou com Tânia Mara Volpatto coordenadora de arte educação do SESC/ Paranavaí que sem hesitar nos cedeu o espaço e assim ampliamos os nossos números, introduzindo trapézio parado e o tecido circense e claro muitos alunos aprendiz como nós: músicos, estudantes, atores, dançarinos, capoeiristas, dentro dessa heterogeneidades surgiu com muita cooperação e trabalho duro o espetáculo “Bichos de São Sererê” baseado nuns recortes da revista “Anjos do Picadeiro – 3”. Neste espetáculo ganhamos o Palhaço Leléco – Elheomar Machado e a Palhaça Naninha – Karina Lima e o Menino Henrique Souza um acrobata maluco e assim o destino nos reservou uma surpresa, o grande amigo e companheiro desse sonho Bruno A. Belilia que decidiu seguir a carreira de ator e músico, pois segundo seu coração, não via que poderia ser tudo isso no circo, no nosso mundo do possível, partiu, uma dor intensa tomou meu corpo senti a verdadeira torta na cara, o chute na bunda e o riso inocente no final.

O Grupo no ano de 2002 o respectivo grupo se chamava Cia. Do Circo de Paranavaí e com o espetáculo: “Bichos de São Sererê” fez uma caravana de apresentações pela região de Paranavaí, passando por diversas cidades e ministrando oficinas tentando fomentar a paixão que estava em nós e sendo também motivado por outras paixões isso se deu quando ministramos uma oficina na Cidade de Querência do Norte para M.S.T – Movimentos dos Sem Terras, onde descobrimos o verdadeiro valor de lutar por um objetivo. O espetáculo se encerrou em sua última caravana pela região de Cascavel/PR apresentando em três turnos e para um público total de 3.200 pessoas.

Depois dessa trajetória toda adentrei a ASAS – Associação dos Artistas de Paranavaí para Coordenar e fazer uma corporação Cultural da Cia. Do Circo de Paranavaí, onde ainda trabalho e ministro oficinas para crianças de 07 a 14 anos com o Apoio da Fundação Cultural de Paranavaí. A troupe realiza espetáculos e pesquisa circense fomentando esta paixão nos pequenos corações. Os outros integrantes do grupo hoje coordenam projetos circenses em escolas, bairros, cidades, escolas de artes.

Hoje crescemos, viramos adultos com as responsabilidades do cotidiano, mais ainda vive dentro de cada um, um menino muito sapeca de calças largas, sapatos grandes, nariz vermelho e uma mala de sonhos.

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