Cartilha Bahia de todos os circos


Por Erminia Silva

Desde o final da década de 1990, diversos grupos de artistas e pesquisadores de todo o Brasil, iniciaram uma militância em prol do circo, que se pode analisar como um movimento diferenciado de toda a história circense brasileira.


Acolha bem o circo em sua cidade – reivindicação histórica dos circenses agora on line

Desde o final da década de 1990, diversos grupos de artistas e pesquisadores de todo o Brasil, iniciaram uma militância em prol do circo, que se pode analisar como um movimento diferenciado de toda a história circense brasileira.

Artistas de todas as áreas de produção da linguagem circense participaram desta militância, como os dos circos itinerantes, das escolas, autônomos e os de rua. Entre os pesquisadores, havia e há alguns de origem circense, como eu, que faço parte da quarta geração dessas famílias no Brasil; aqueles que eram artistas e aderiram às causas, pesquisando sobre o “povo da lona”; e, também, os que se transformaram em pesquisadores, depois de frequentarem escolas de circo e se tornarem artistas.

Enfim, como tenho discutido em vários lugares, um intercâmbio de pessoas e produções que raramente se encontra em outro país do mundo, que vem demonstrando ser uma das principais características das novas formas de produção da linguagem circense, nos seus diferentes modos de organização do trabalho.

Em 15 de maio de 1997 a ABED – Associação Brasileira de Empresas de Diversões organizou com a Funarte – Fundação Nacional de Artes, um encontro de empresários circenses com o então Ministro da Cultura. Após reunião com os artistas e suas reivindicações, num primeiro momento ficou estabelecido que fossem garantidos três pontos básicos: 1. Relançamento da Campanha Receba o Circo de Braços Abertos; 2. Programa de financiamento sem juros para circos; 3. Formação de Comissão para criação de legislação especial para circos.

Para o momento, interessa-nos, em particular, o terceiro ponto. E para este, pensou-se em uma Comissão de Estudos da Legislação. Não tenho referência se tal Comissão tenha sido de fato constituída. De qualquer forma, o que se observa é a recorrência deste tema nas reivindicações circenses, que voltou com muita força em 09 de abril de 2000, quando uma tragédia ocorreu no Circo Vostok, no Estado de Pernambuco.

Em 2001, foi realizado o I Seminário do Circo Brasileiro – Direitos e Deveres , da qual fui uma das organizadoras, promovido pela então Associação Brasileira de Circo (Abrac), com apoio do Ministério da Cultura, através da Secretaria da Música e Artes Cênicas e da Funarte. Entre as várias questões levantadas no mesmo, uma delas dizia respeito à “falta de receptividade dos municípios, na sua grande maioria, aos circos quanto à sua instalação e funcionamento”.

No ano de 2005, a Abracirco – Associação Brasileira do Circo junto com a Secretaria Estadual de Cultura do Estado de São Paulo voltavam a investir na proposta de produzir uma campanha para que os municípios brasileiros recebessem o circo de braços abertos. E meio às análises realizadas, o documento expressava que entre as várias razões do declínio dos circos itinerantes no Brasil uma deveria ser pontuada com ênfase: muitas vezes, as Prefeituras e as autoridades municipais não se sensibilizam em receber o circo em suas cidades. Ao contrário, colocam barreiras das mais diversas naturezas, quando não proíbem sumariamente a entrada do circo no município.

Empenhados em revitalizar aquela que foi uma das mais importantes expressões culturais brasileira, incentivando os municípios a receberem as artes circenses, em todas as suas múltiplas formas de produção, seja sob a lona, nos palcos, nas escolas de circo, grupos e trupes ou nas ruas, Abracirco e a Secretaria da Cultura propunham a produção de uma Cartilha. Esta seria um instrumento que poderia “garantir o acesso democrático dos munícipes a esse espetáculo vibrante e incentivador dos sonhos infantis”, acrescentando que seria “dedicada a todos os profissionais que amam e levam com dignidade a cultura milenar circense aos quatro cantos do Brasil; profissionais que enfrentam todas as dificuldades existentes com amor, fé e determinação”.

Como se pode observar nessa rápida introdução histórica sobre a luta do circo, no Brasil, em ser recebido pelos municípios, em todos os seus momentos a produção de uma Cartilha está presente em todas as reivindicações do grupo de homens, mulheres e crianças circenses – protagonistas do patrimônio cultural brasileiro.

Em todas as fases que fiz parte dessas reivindicações e quando de fato se produziu algumas cartilhas, fui defensora que o debate do conteúdo das mesmas fosse aberto para que todos os circenses, de todas as frentes de produção dessa arte, pudessem participar ativamente do conteúdo da mesma.

Nós do Circonteúdo que demos continuidade ao Pindorama Circus, sempre estivemos juntos aos movimentos que propunham e propõem a socialização de produções e informações. Um desses grupos que temos tido ricas parcerias é o Núcleo de Artes Circenses da Fundação Cultural do Estado da Bahia.

Democraticamente o Núcleo já disponibilizou nesse site o Mapeamento e Memória do Circo da Bahia , coordenado por Alda Laborda. A riqueza de informações que a pesquisa realizada produziu, e está produzindo ainda, é incomensurável. “O Projeto objetiva registrar a atividade das companhias, trupes, circos e artistas em todo estado, através de impressos e material audiovisual, com a finalidade de criar um banco de dados que auxiliará a elaboração e execução de políticas públicas voltadas para o meio circense (…). O material gerado através do mapeamento tem como objetivo auxiliar pesquisadores do estado da Bahia e de todo o Brasil, além de servir de dados de pesquisa para artistas, escolas, fundações, associações, comunidades e instituições culturais e/ou educacionais”.

Confirmando a missão que o Núcleo vem se propondo, e reafirmando a parceira com o Circonteúdo, eles disponibilizam ao mundo seu mais recente produto fruto de intenso trabalho, pesquisa e militância a Cartilha: Bahia de todos os circos. Acolha bem o circo em sua cidade. (Baixe o pdf desta cartillha)

Em sua apresentação afirma que, através “desta cartilha o Núcleo de Artes Circenses da Fundação Cultural do Estado da Bahia, objetiva aproximar as trupes circenses dos prefeitos, coordenadores e dirigentes de cultura do Estado, visando o estímulo e a boa acolhida do circo nos municípios da Bahia.”

Outras cartilhas foram produzidas antes desta da Bahia, entretanto só agora temos a oportunidade de disponibilizar on line. Nós do Circonteúdo nos sentimos honrados em estarmos sendo o veículo on line de divulgação dessa Cartilha, que esperamos não fique apenas na Bahia, mas que todos os outros Estados também possam construir as suas cartilhas, pois assim abre possibilidade de que toda a diversidade de produção da linguagem circense seja RECEBIDA DE BRAÇOS ABERTOS e que também seja um caminho de consolidação do CIRCO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO.


O Núcleo de Artes Circenses vem desenvolvendo desde 2007 ações voltadas para esta área, incentivando, apoiando e fortalecendo a criação, manutenção e qualificação dos artistas circenses no Estado.

Foi a partir de debates que envolviam temas como o funcionamento e melhoria das atividades circenses na Bahia, realizados durante os Encontros com Circenses entre dezembro/2007 e outubro/2008, que surgiu a proposta de elaboração da cartilha Bahia de Todos os Circos, material informativo de apoio às atividades circenses.

Além desta publicação, o Núcleo de Artes Circenses é responsável pela execução de ações e projetos voltados para esta área, tais como: mapeamento de artistas e circos, capacitações e qualificações artísticas, fomento a pesquisa e produção, além de editais e novas formas de incentivar a arte no Estado.

Núcleo de Artes Circenses – Fundação Cultural do Estado da Bahia Gisele Nussbaumer – Diretora da Fundação Cultural do Estado da Bahia

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