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A educação e o circo social

Macedo, Cristina Alves – Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica do Salvador (UCSal). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Artigo apresentado durante o evento XIV Semana de Mobilização Científica (SEMOC) – UCSal em 2011. ISSN: 2177-272X.


RESUMO: O presente artigo trata sobre a educação no Circo Social expondo como sujeitos da classe popular são educados através da linguagem circense, demonstrando a existência de grupos distintos de formação. Abordam-se sobre o desenvolvimento cognitivo, destacando que as técnicas circenses propiciam o desenvolvimento de capacidades e habilidades que auxiliam na aprendizagem de conteúdos escolares. Por fim, discute-se sobre o desenvolvimento integral evidenciando que os campos cognitivo, afetivo e motor encontram no Circo Social espaço profícuo para o seu desenvolvimento em conjunto.

  

INTRODUÇÃO

 O mundo do circo sempre envolveu e fascinou as pessoas por suas demonstrações de habilidosos artistas que, utilizando a linguagem circense, desafiam os próprios limites e levam o público a experimentar as mais diversas emoções. Porém, atualmente, a utilização da linguagem circense não se limita ao desenvolvimento da técnica para apresentação de um brilhante espetáculo, mas se estende também a outros âmbitos, quais, o da educação e da busca de uma transformação social, por meio do Circo Social.

O Circo Social, modalidade de circo que utiliza a linguagem circense como instrumento de inclusão social, atua com uma pedagogia alternativa de educação, que se direciona a ajudar sujeitos da classe popular a adquirirem a cidadania.

Neste artigo, trata-se sobre a educação no Circo Social, tecendo considerações sobre como sujeitos da classe popular são educados através da linguagem circense e como esta contribui para o desenvolvimento do indivíduo como ser integral, demonstrando, por fim, que a linguagem circense contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades que auxiliam na aprendizagem de conteúdos escolares.

 

EDUCAÇÃO E LINGUAGEM CIRCENSE

 A proposta do Circo Social de educar utilizando a linguagem circense se insere em um projeto de educação não alfabetizante, que objetiva auxiliar sujeitos da classe popular na construção de sua subjetividade e contribuir para a sua inserção na vida social. Com esse fim, são associados fundamentos teóricos e práticos que visam incentivar crianças, adolescentes e jovens a reconhecerem suas potencialidades para que assim possam criar novas perspectivas para o futuro.

Destarte, as teorias desenvolvidas por Paulo Freire, um educador pernambucano que estudou profundamente assuntos referentes à educação popular, se tornam uma referência expressiva para os projetos de educação que atuam na perspectiva de inclusão. No Circo Social, suas considerações sobre a liberdade da opressão através de uma educação libertadora mediada pelo diálogo são pontos importantes que colaboram com a proposta de auxiliar o sujeito na construção de sua autonomia.

Freire (1987) ao se referir à liberdade da opressão indica a necessidade de uma pedagogia que possa proporcionar situações que levem o sujeito a libertar-se de sua condição de oprimido e que contribua para a sua emancipação. Mas, como sinalizado pelo próprio Freire (1987), para poder libertar-se, o sujeito precisa querer lutar para libertar-se e isso só acontece quando ele consegue compreender a sua indigência e rebelar-se contra ela. Dito isto, é interessante evidenciar que os seres humanos, como sujeitos sociais, precisam conhecer a si e ao seu próprio contexto para poder fazer uma leitura consciente desse universo; assim, o Circo Social, utilizando a arte como elemento mediador, busca inserir o sujeito na ação sócio-educativa criando situações que o levem a compreender a sua realidade e sirvam de estímulo para que este venha a transformá-la.

Porém, é preciso destacar que a opressão vivenciada por muitos sujeitos nasce de uma situação de violência advinda de um contexto de desigualdade social. Ademais, os homens são produtos e produtores dessa realidade e, portanto, transformá-la é uma tarefa histórica dos homens, o que só acontece após o indivíduo reconhecer quem é o seu opressor e se empenhar no sentido de uma mudança.

No circo social essa busca por mudança acontece em todos os momentos, sendo visível principalmente no momento do desenvolvimento das atividades, as quais se direcionam não apenas a ensinar a técnica circense, mas também a fazer com que os seus atendidos reconheçam as suas potencialidades. Com essa finalidade, são desenvolvidas atividades que, a partir do trabalho corporal, propendem levar os indivíduos a criarem primeiramente uma compreensão política dos seus direitos, individuais e coletivos, a qual gerará, por consequência, a compreensão dos próprios interesses revelando a criatividade singular.

O homem pode mudar a realidade social, mas essa não se modifica por si só ou por interferência do destino; o reconhecimento de suas necessidades e interesses, e o de uma coletividade, o levará a trabalhar para que essa mudança aconteça. 

Vygotsky (1999) relata que o comportamento dos homens é construído a partir da interação entre o indivíduo e o ambiente, sendo ele produto e produtor destas interações, portanto, as diferentes experiências derivadas do contexto em que os indivíduos estão inseridos influenciam na maneira com que estes enxergam o mundo à sua volta. Assim sendo, o aprendizado advindo de práticas sociais, em um trabalho coletivo que leva em consideração as experiências individuais, contribui para o desenvolvimento do sujeito permitindo, também, a ajuda recíproca. Vale destacar que o trabalho desenvolvido pelo Circo Social colabora para que o sujeito se desenvolva, proporcionando um âmbito de mutua cooperação.

O trabalho no Circo Social compreende, fundamentalmente, a participação em três diferentes grupos de formação, quais: Básico, Intermediário e Avançado. No grupo Básico, o ensino das técnicas acontece de maneira lúdica, sendo ressaltado o aprendizado global do aluno, visualizando, sobretudo, o processo vivenciado. A participação neste grupo implica o vínculo com a escola formal e para fazer aula de circo os alunos têm que estar não apenas matriculados, mas também frequentando as aulas. Com o intuito de orientar e ajudar os atendidos em questões referentes à escola, acompanhar o seu desenvolvimento e dar suporte às eventuais dificuldades que porventura possam se apresentar, uma equipe que integra o setor pedagógico realiza o Acompanhamento Escolar. Esse acompanhamento se estende aos outros grupos.

No grupo Intermediário, direcionado aos alunos que já adquiriram os conhecimentos básicos sobre as técnicas circenses, enfatiza-se o treino com a finalidade de preparação técnica e rendimento individual, incluindo-se novas atividades como música, dança e teatro.

O curso Avançado, que pode ser denominado de curso de Instrutor, de Instrutor de Circo Social, de Educador Social, visa à formação de multiplicadores da ação educativa através da “Arte-circo-educação”. O sujeito formado neste curso recebe a instrumentalização necessária para inseri-se no mercado de trabalho, sendo habilitado a trabalhar com Educador Social.

Vale ressaltar que no circo, o trabalho desenvolvido com escopo social através das técnicas circenses também cumpre um papel importante no desenvolvimento de capacidades cognitivas. 

 

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