As Feiras – encontro da diversidade artística

As Feiras – encontro da diversidade artística

As praças, ruas e feiras há muito eram ocupadas por companhias ambulantes que se apresentavam ao ar livre, em barracas cobertas de tecidos ou de madeiras; palcos de pequenos teatros estáveis ou fixos e de variedades. Eram acrobatas, dançadores de corda, equilibristas, malabaristas, manipuladores de marionetes, atores, adestradores de animais, principalmente ursos, macacos e cachorros.

Os espetáculos da feira, empreendimentos privados e não permanentes, não eram subvencionados pelo rei nem por sua entourage, e dependiam apenas do comércio nas bilheterias. O sucesso era o primeiro objetivo de seus espetáculos que não se propunham apenas a sensibilizar o público, mas a conseguir que este desse algo em troca dessa sensibilização. Não realizavam um teatro de repertório nem de alternância de peças, como faziam os elencos estabelecidos sob a égide real. Interpretavam a mesma peça até suprir a platéia ou ver esvaziar os assentos, assim, poucas peças foram representadas mais de sete vezes .

O caráter desse empreendimento, tanto pelo público a que se destinava como pelas condições econômicas que o emulavam, muitas vezes precárias, era diferente dos elencos subvencionados e regulados pela monarquia. Esta produção no teatro das barracas de feira gerou uma enorme pesquisa do que aprazia o gosto popular, do teatro como puro divertimento, da busca do original, da fantasia, do que agradava a vida, do pitoresco, do cômico e do imaginativo, de tudo aquilo que pudesse ser colocado como valor de troca no mercado das ilusões.

Neste reino das ruas e de circulação das mercadorias, impunha-se uma procura do original, do diverso, da fuga das normas, já que nos limites da monarquia, pressentindo-se, talvez, sua futura derrocada, elaborava-se uma constante sistematização de seus hábitos nas danças da corte, nos costumes, nas formas de representação do espetáculo que agradasse à presença real.

Como ainda não havia luz elétrica, o espetáculo era representado durante o dia, por volta das cinco horas, dando tempo suficiente para que a platéia retornasse as suas casas. O programa diário era construído de peças curtas e entretenimento variado, assim como poderia incluir uma peça longa seguida de uma farsa. A música era uma parte constante de todos os desempenhos.

Dentro desse tipo de teatro, a assimilação explícita das estruturas dos outros gêneros existentes, como as músicas repetidas de operetas ou das comédias musicais, ou da paródia contínua traziam não apenas a introdução dessas estruturas ou elementos destes outros estilos dramáticos, mas também implicitamente uma crítica aos limites pré-estabelecidos dos gêneros ou formas teatrais contemporâneos. O teatro da pantomima, mesmo emudecido ou gestual, estará sempre em diálogo.

Em sua procura pelo efeito teatral, pela invenção constante, pela renovação contínua, o teatro das feiras acabou produzindo-se como um local de experimentação das novas formas de manifestação teatral. Assim, eram as barracas de feiras, um constante experimentar do diverso, do outro, do estabelecer diferentes condimentos, da troca de experiência e de culturas. O sucesso desse procedimento com o público das feiras, ou mesmo, por debilidade das companhias reais, atraiu até sua platéia o público das cortes e chegou a receber, algumas vezes, o próprio reconhecimento real.

Em 1680, Luís XIV lança o edital que funda a Comédie Française que será investida da exclusividade de encenar peças teatrais em Paris, e os demais atores serão proibidos de se estabelecer na cidade, a menos que fossem expressamente autorizados por Sua Majestade.

Iniciou-se, então, uma série de novas medidas restritivas com o fito de manter o monopólio e impedir o desenvolvimento da representação nos teatros de feira. Estas medidas reais influiriam decisivamente no estilo teatral a ser desenvolvido, posteriormente, pela pantomima das feiras.


Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Foire_saint-germain.jpg
Robson Corrêa de Camargo – “A pantomima e o teatro de feira na formação do espetáculo teatral: o texto espetacular e o palimpsesto”, in Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. outubro/novembro/ dezembro de 2006. Vol. 3 – Ano III – nº 4 – ISSN: 1807-6971. Disponível em: www.revistafenix.pro.br.

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